Em outubro, o número de inadimplentes atingiu o recorde histórico de 61 milhões de brasileiros, de acordo com as apurações da Serasa Experian. Esse contingente demonstra o quanto a política de crédito é importante na gestão financeira empresarial.
Adotar parâmetros para concessão e cobrança de crédito ajuda a lidar com essa situação, que atinge todos os setores econômicos. Mesmo sendo inevitável que os atrasos ocorram, é possível minimizar seus efeitos para não comprometer suas operações.
Demonstramos como montar um modelo com seis itens fundamentais. Acompanhe!
Saiba como a política de crédito pode ajudar a sua empresa
Toda empresa é um sistema em que recursos materiais e imateriais são processados para gerar produtos ou serviços. A execução de cada etapa operacional requer parâmetros para que se obtenha os resultados esperados. Para isso, as organizações estabelecem ferramentas, métodos e rotinas que facilitam o controle das operações e criam os padrões de qualidade a serem alcançados.
Entre os inúmeros setores que dependem de regras e normas detalhadas está a análise e a concessão de crédito, área sujeita a riscos que, se forem negligenciados, podem comprometer todos os resultados empresariais.
A política de crédito nada mais é do que a definição e formatação das práticas a serem adotadas nesse âmbito. O objetivo é consolidar um documento que defina os procedimentos adotados pela empresa, contemplando requisitos a serem atendidos, quais análises deverão ser feitas (e como), condições para concessão ou restrição do crédito, limites, margens de risco, análises financeiras (como nível de inadimplência, por exemplo), situações excepcionais, responsabilidades, entre tantos outros aspectos.
O tamanho e as informações do documento dependerão da realidade e das necessidades de cada organização. No entanto, a recomendação é para que haja o maior detalhamento possível dos procedimentos a serem adotados.
A política de crédito está vinculada ao risco que será assumido pelo empreendimento, portanto precisa atingir um nível de informação e orientação condizente com sua importância. Qualquer pessoa que tenha acesso ao roteiro da política de crédito deve ser capaz de compreendê-lo com clareza para poder colocá-lo em prática de acordo com o que estiver estabelecido.
Use os 6 C’s da política de crédito
A política de crédito é constituída levando em consideração alguns conceitos fundamentais que devem nortear as estratégias do setor. Esse direcionamento, em geral, é dado pela regra dos 6 C’s, que sintetiza os aspectos obrigatórios da análise de crédito em seis tópicos:
1. Caráter
É a verificação da predisposição do tomador de crédito em pagar seus débitos. Esta é a etapa que consiste na avaliação da postura do cliente como pagador, considerando se ele está inscrito nos órgãos de restrição ao crédito e se tem honrado com seus compromissos. Enfim, qual é a intenção em saldar a dívida?
2. Capacidade
Diz respeito ao potencial de geração de lucro do comprador. Pressupõe identificar as suas fontes de obtenção de renda, considerando, ainda, no caso de pessoa jurídica, as condições operacionais, comerciais e administrativas da empresa. Como o tomador de crédito viabiliza seus recursos?
3. Capital
Avalia demonstrativos financeiros do cliente, a fim de verificar a capacidade de gerar lucro, além da liquidez e seu perfil de endividamento. Qual é o montante de dívida com o qual ele pode arcar?
4. Colateral
Investiga os ativos que podem ser apresentados como garantia ou fiadores que possam ser acionados. Bens como imóveis, veículos e equipamentos, entre outros, podem ser considerados nesta etapa. Se as operações e o capital não forem suficientes para arcar com a dívida, quais são as outras possibilidades a serem tentadas?
5. Condições
É quando se observa a possibilidade de adaptação à conjuntura. Por isso, leva em conta tanto a flexibilidade do cliente frente às adversidades quanto o contexto macroeconômico. As condições são favoráveis à concessão de crédito? Se não forem, como serão enfrentadas?
6. Conglomerado
No caso de o tomador de crédito ser pessoa jurídica, pode ser feita uma análise das empresas coligadas, que façam parte do mesmo grupo, e que possam dar sustentação às operações e obrigações do devedor. De que maneira as organizações pertencentes ao mesmo grupo beneficiam ou prejudicam a capacidade de pagamento?
Estabeleça tópicos e normas
A política de crédito deve ser um documento acessível aos interessados, por isso precisa estar coerentemente estruturada, permitindo que as informações sejam localizadas facilmente sempre que houver a necessidade.
Dividir as orientações em itens facilita e agiliza a compreensão do documento. Além disso, é uma excelente forma de fazer com que gestores e profissionais vinculados a cada etapa do processo de análise, concessão e cobrança de crédito avaliem suas rotinas, apontem práticas bem-sucedidas e, inclusive, indiquem melhorias.
Cada empresa tem seus processos e são eles que devem prevalecer no documento. Mas a forma como as orientações serão apresentadas e as etapas a serem contemplas na política de crédito são comuns à maior parte das organizações. Veja como você pode estruturar as informações em seis itens:
1. Introdução
Deve conter um breve resumo do conteúdo do documento, indicando quais são os seus objetivos, a quem se destinam as orientações e a importância das regras.
2. Gestão do risco
Nesse item, o documento pode detalhar informações financeiras fundamentais para o empreendimento e o nível de risco tolerado.
Aqui, vale fazer uma análise minuciosa do ciclo financeiro da empresa, pois a partir da análise do fluxo de caixa é possível identificar quais condições podem levar ao desequilíbrio no orçamento.
Tendo esses dados em vista, é possível definir as metas da empresa quanto ao percentual de inadimplência a ser suportado por mês. Os débitos vencidos só são considerados em inadimplência a partir de 90 dias de atraso – isso tem que ser frisado no documento. Por exemplo, pode-se definir que “o percentual de inadimplência não deve passar de 2% do faturamento bruto mensal”.
Essa meta precisa ser monitorada e qualquer desvio (para mais ou para menos) precisa ser avaliado para que sejam corrigidas distorções, se for o caso.
3. Base cadastral
Compete à política de crédito detalhar quais são as informações e documentos exigidos dos clientes. Nessa etapa, devem ser definidos quais documentos de identificação, comprovantes de residência e renda poderão ser aceitos.
É importante regulamentar quais são as formas aceitas na apresentação desses documentos (se são aceitas ou não versões digitalizadas, por exemplo), além de esclarecer como verificar a veracidade e a validade desses documentos.
4. Ferramentas de análise
Todos os dados juntados na inscrição cadastral do cliente precisam passar por um filtro. Essa etapa é realizada por softwares e ferramentas de análise que são capazes de processar uma grande quantidade de dados em pouco tempo. Servem, ainda, para rastrear as informações prestadas, verificando se há impedimentos e qual é a veracidade dos dados computados.
A política de crédito precisa incorporar essas informações, explicando quais são as ferramentas de análise adotadas, como e quando devem ser utilizadas. Oriente, ainda, sobre possíveis falhas sistêmicas e a quem recorrer para corrigi-las.
5. Procedimentos de análise
Essa é a parte mais extensa do documento, onde serão detalhadas as práticas relativas à análise de crédito, como:
- ingresso do pedido de crédito (requisitos a serem atendidos pelo cliente);
- prazo para análise;
- limites de crédito de acordo com o score do cliente;
- limites pré-aprovados, se for o caso;
- atualização diária de riscos e scores;
- situações de bloqueio;
- possibilidades de aumento de limite;
- clientes que não estão sujeitos à política de crédito;
- responsáveis pela aprovação do crédito;
- composição do comitê de crédito;
- frequência de reuniões do comitê de crédito.
6. Procedimentos de cobrança
Nesse momento, são apresentadas normas relativas às cobranças. Deve ser definido quando e como comunicar o cliente do atraso, bem como apresentar as possibilidades de negociação. Vale acrescentar, ainda, casos que devem ser avaliados pela área jurídica.
Essas são etapas básicas que podem uniformizar os procedimentos e estratégias. Sua empresa já tem uma política de crédito? Quer aprender a fazer uma?
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