Compras

Passo a passo para criar uma política de compliance em compras

A criação de uma política de compliance eficaz no setor de compras é uma prioridade estratégica para as empresas que buscam proteger seus processos internos, evitar fraudes e manter a eficácia da conformidade com as regulamentações vigentes. No Brasil, o setor de compras tem se mostrado um dos mais vulneráveis a riscos de corrupção, manipulação de contratos e superfaturamento, sobretudo em ambientes empresariais onde os controles são falhos ou insuficientes.

Um exemplo recente que evidencia a importância do compliance no setor de compras são os esquemas de corrupção no agronegócio, como superfaturamento de contratos e fraudes em licitações, que geram impactos negativos não apenas nas empresas, mas em toda a cadeia de fornecimento. A Operação “Carne Fraca”, deflagrada pela Polícia Federal em 2017, exemplifica esse problema. Investigou-se a atuação de frigoríficos que pagavam propinas para fiscais do Ministério da Agricultura a fim de liberar produtos sem a devida inspeção sanitária. O resultado foi um grave impacto na imagem do setor e na confiança do consumidor.

Este caso sublinha a importância de adotar processos rigorosos de Due Diligence de fornecedores e de Background Check, elementos essenciais para uma política de compliance robusta no setor de compras. Neste artigo, apresentamos um passo a passo para criar uma política de compliance eficaz, com o objetivo de prevenir fraudes e garantir a transparência em todas as etapas do processo de compras empresariais.

Passo a passo para criar uma política de compliance em compras

A seguir, apresentamos um passo a passo para desenvolver essa política, abordando diretrizes gerais e, na parte final, os processos específicos que devem ser seguidos.

1. Atribuição de responsabilidades das áreas

O primeiro passo para criar uma política de compliance eficaz é atribuir responsabilidades claras a todas as áreas envolvidas no processo de compras. Isso inclui a área comercial, a equipe de cadastro, o setor de compras e os colaboradores responsáveis por cada fase do processo. É fundamental definir quem será responsável por atividades como a cotação de insumos, a avaliação de fornecedores e a gestão de contratos, garantindo que todos estejam cientes de suas obrigações.

2. Definição dos procedimentos e processos necessários

Cada etapa do processo de compras deve ser bem estruturada e documentada. Entre as principais atividades que devem ser padronizadas estão: a cotação dos insumos (evitando favorecimentos), a realização de Due Diligence nos fornecedores, a gestão dos contratos firmados, a avaliação do recebimento de produtos e serviços e o acompanhamento contínuo da relação com os fornecedores.

3. Estabelecimento de ações de compliance

A política de compliance deve estabelecer medidas claras para prevenir conflitos de interesse, subornos, corrupção, presentes e outros atos ilícitos. Essas ações são fundamentais para garantir a lisura de todo o processo de compras. Deve ser proibido qualquer tipo de favorecimento ou ação que possa comprometer a integridade da empresa e suas relações comerciais.

4. Definição do papel da diretoria e colaboradores

A política de compliance deve definir claramente o papel da diretoria e dos colaboradores no cumprimento das normas. A diretoria deve garantir que os processos de compras estejam alinhados aos princípios éticos e estratégicos da empresa. Já os colaboradores devem ser treinados e acompanhados quanto à execução das diretrizes estabelecidas, com o compromisso de atuar sempre de forma transparente e ética.

5. Diretrizes claras para fornecedores

A política de compliance deve estabelecer diretrizes claras para os fornecedores, incluindo códigos de conduta e requisitos específicos relacionados ao pagamento. Além disso, é importante garantir que as condições de pagamento sejam transparentes e que não haja exceções ou práticas irregulares. Por exemplo, o pagamento em dinheiro deve ser proibido sob qualquer circunstância, e, exceções para pagamentos com prazos superiores a 60 dias devem ser aprovadas pela diretoria de compras.

6. Due Diligence e auditorias periódicas

Para garantir que as diretrizes de compliance sejam efetivamente seguidas, é essencial implementar mecanismos de monitoramento. Auditorias periódicas, seja por amostragem ou de forma integral, devem ser realizadas para revisar os processos de compras e assegurar que todas as etapas estão em conformidade com as normas estabelecidas. Além disso, a política de compliance deve ser revisada periodicamente para ajustar-se às mudanças legais e de mercado.

7. Segregação de funções nas aprovações

A segregação de funções é indispensável para que a cotação, a recepção e a conferência de produtos sejam realizadas por pessoas diferentes, evitando conflitos de interesse. Isso garante maior transparência e controle nos processos de compras.

8. Regras de cotação

A política de compliance deve estabelecer regras claras para a cotação de produtos e serviços. Por exemplo, até um determinado valor, uma única cotação pode ser suficiente, mas para valores mais altos, é necessário solicitar duas ou mais cotações. Isso assegura que os preços estejam de acordo com o mercado e evita práticas inadequadas durante o processo de compra.

9. Due Diligence de fornecedores

A realização de Due Diligence é essencial para garantir que os fornecedores cumpram com as normas éticas e legais. Deve ser feita a verificação da reputação dos fornecedores e a avaliação de sua conformidade com as regulamentações ambientais e sociais. Para fornecedores críticos, a Due Diligence deve ser realizada de forma mais rigorosa, com foco especial em aspectos como sustentabilidade e responsabilidade social.

10. Due Diligence Ambiental

A política de compliance também deve estabelecer a realização de uma Due Diligence ambiental, verificando se os fornecedores estão em conformidade com a legislação ambiental vigente e com as normas de sustentabilidade. A empresa deve dar preferência a fornecedores que possuam certificações e selos de sustentabilidade.

11. Verificação da realização de serviços contratados

Antes da liberação de pagamentos para compras indiretas ou serviços, é fundamental realizar uma verificação da prestação de serviços. Isso garante que o serviço foi prestado conforme o acordado, evitando pagamentos indevidos e assegurando que a empresa esteja pagando apenas pelo que foi efetivamente entregue.

12. Rodízio de compradores

A implementação de um sistema de rodízio entre os compradores ajuda a evitar vínculos indesejáveis com fornecedores e fortalece a imparcialidade no processo de compras. O rodízio também garante maior transparência nas decisões e previne práticas de favorecimento.

13. Preferência por fornecedores locais e comunitários

A política de compliance deve incluir uma preferência por fornecedores locais ou comunitários, desde que o preço e a qualidade sejam compatíveis com as demais ofertas. Essa política fortalece as relações com a comunidade em que a empresa está inserida e contribui para a responsabilidade social da organização.

Seguindo esse passo a passo, sua empresa terá uma política de compliance robusta e bem estruturada, alinhada às melhores práticas de mercado e às exigências legais. A implementação dessa política no setor de compras fará com que todos os processos sejam conduzidos com ética, transparência e responsabilidade, fortalecendo a confiança interna e externa e protegendo a empresa contra riscos e fraudes.

Conclusão

Agora que você já conhece o passo a passo para implementar uma política de compliance em compras, saiba também que a BCN treinamentos oferece o curso de compliance em Compras   além de diversos treinamentos para a área de compras, são eles: Negociação ComercialStrategic SourcingÁrea Fiscal para CompradoresGestão de EstoquesQualificação, Homologação, Avaliação de Fornecedores, dentre outros. Conheça mais sobre os cursos oferecidos pela BCN Treinamentos. Entre em contato com a nossa equipe  e confira a nossa agenda de treinamentos.

Compartilhar
BCN Treinamentos

Posts Recentes

Como aplicar ESG na gestão de compras empresariais?

A aplicação de ESG (ambiental, social e governança coorporativa) na gestão de compras empresariais envolve…

1 semana atrás

O que é VPL (Valor Presente Líquido), para que serve e como calcular?

O Valor Presente Líquido (VPL) é uma das principais ferramentas utilizadas na análise de viabilidade…

2 semanas atrás

Como garantir compliance nas compras empresariais?

Para que a empresa tenha eficiência operacional é fundamentar garantir o compliance nas compras empresariais,…

3 semanas atrás

Due Diligence de Fornecedores: o que é, tipos, importância e sua aplicação

A Due Diligence de fornecedores consiste em um processo minucioso de verificação que visa avaliar…

4 semanas atrás

Como criar um código de conduta para seus fornecedores?

Para criar um código de conduta para fornecedores é preciso ter em mente a definição…

1 mês atrás

Como se faz uma projeção financeira?

A projeção financeira é uma ferramenta essencial para planejar e prever o desempenho financeiro da…

2 meses atrás